- Como ?
Ele sorri de um modo sacana enquanto vira lentamente o pescoço para repetir o que disse.
- Não é João, mas sim Lucas. Eu menti porque não te conhecia e não sabia se podia confiar em você.
Ele sorri de um modo sacana enquanto vira lentamente o pescoço para repetir o que disse.
- Não é João, mas sim Lucas. Eu menti porque não te conhecia e não sabia se podia confiar em você.
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"Quando a chuva estiver soprando no seu rosto
E o mundo todo incomodar você
Eu poderia te oferecer um abraço caloroso
Para fazer você sentir o meu amor"
(Make You Feel My Love - Adele)
Ok . fui ingênuo e despreparado.
Eu não acredito que estou no meio disso tudo. João não é João, João é Lucas.
João tecnicamente nunca existiu, estou sentado do lado de um estranho qualquer que pelo que sei, talvez, Lucas nem seja seu verdadeiro nome.
Tenho um ponto de visão sobre nomes. meus neurônios estão em um turbilhão de ações para montar uma imagem de personalidade sobre o João, agora, Lucas.
Eu tenho essas coisas, não sei se devo chamar isso de toc, sempre tenho um preconceito com as pessoas a partir do nome delas, tipo ele como João me parecia muito mais responsável e experiente do que como Lucas. Depois dessa pequena, mas significativa, mudança Lucas parece mais infantil, jovem e brincalhão. Agora que João é Lucas...
Por ter mentido pra mim ele esta parecendo um moleque agora.
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- Para o carro, eu preciso descer - disse sem ter forças para olhar para baixo e procurar entre os bancos a ponta do sinto para apertar a trava e me soltar. Do jeito que estou me sentindo enganado, talvez se eu me abaixar um pouco e chore pois sinto meus olhos marejados. Marejados por uma mentira.
Ele ignora meu pedido
- Eu quero sair dessa droga agora, para essa porcaria João !
- Moleque você é louco !? - ele se inclinou até mim com o carro ainda em movimento, sobrepondo sua mão sobre a minha rapidamente fechando a porta com toda a força em meio a Dom Vilares - você é louco. Quer causar um acidente ou se matar ?!
- Louco !? - grito de raiva - Antes de nos conhecermos já existia uma mentira, achou que eu iria fazer o que com o seu nome. gritar aos 7 cantos que te conhecia, colocar anunciando em outdoors ?
ele me olha atento
- Para esse carro agora.
- Você é muito mimado Thiago, não esta se dando tempo para entender o meu lado. Eu não sou assumido e é por isso que também nunca te mandei uma foto. Eu tenho receio, não nego. Mas não sou uma pessoa ruim por ser assim.
- Por tudo o que eu vi de você até agora você pode ser um assassino, ou um ladrão de órgãos vigarista da internet - acusei.
Agora eu entendi o que minha mãe queria dizer quando falava sobre tomar cuidado com os sedutores da internet.
Pela vasta experiencia que eu tenho na area de programas criminais (Linha Direta, Brasil Urgente, Cidade Alerta e aquele que o Gil Gomes apresentava) esse cara sorrindo ao meu lado pode bem ser o meu assassino. Já consigo me ver em pedaços em uma mala bem apertada e abandonada num terminal de ônibus. "num podi sê" digo a mim mesmo, apertado não.
Ele me olha nos olhos, mas não com aquele olhar passageiro e receptivo. ele esta olhando no fundo do meu ser, quase como quem segura uma pessoa sem nem toca-la. Sim, estou rendido permitindo que seu olhar passeie por mim e de alguma forma tente me traduzir.
Aos poucos o seu sorriso vai embora deixando para traz apenas um semblante sereno - espero que ele não tenha lido minha mente até a parte da mala apertada.
Involuntariamente ele sorri de um jeito meigo. Agora calmo eu consigo notar que quando ele sorri seus olhos também sorriem, poderia um assassino ser tão meigo ? ou estaria ele sorrindo por ser doido de pedra ?
- Meu nome é Lucas, prazer - de maneira espontânea ele segura minha mão esquerda e a guia até o seu rosto roubando meu momento como investigador e me acalmando.
Lucas ... até que é um nome diferente pra um psicopata - pensei.
- Thiago - respondo involuntariamente.
- Como eu disse não sou assumido, então me desculpa por mentir. Não tenho costume de ser sempre...
- Um idiota ? - pergunto com raiva
Ele apertou o volante com mais força e olhou para frente dirigindo guiado pelo silencio para alguma rua com pouco movimento nas proximidades da Ribeiro Lacerda. Descemos, subimos e rodamos. Rodamos tanto que nem sei se ainda estamos na região da Av. do Cursino.
Estacionamos o carro varias e varias vezes, alias ele acabou de ligar o carro de novo, parece que tem alguém vindo... e isso o incomoda, e ser visto com um homem dentro de um carro também esta passando a me incomodar. Que paranoia.
- Acho que aqui é mais fácil para conversarmos. - ele estacionou em uma rua com pouca iluminação. Reinava total e extremo silencio.
Estou mais uma vez - pra variar - me permitindo ser feito de bobo e correndo riscos por um estranho qualquer. acho que tem três coisas enraizadas na minha personalidade, três coisas muito fortes dentre elas : ser trouxa, carente e ter raiva. O pior é que é tudo misturado.
Se ele mentiu sobre o nome, poderia ele ter mentido sobre a vida também. Será que ele trabalha com uma marca de dança mesmo ?
Ele se vira me encarando com esses olhos profundamente negros. Estou com a atenção dele totalmente voltada pra mim, parece até que esta tentando me decifrar - como eu odeio isso - como pode ele ter olhos tão escuros e tão vivos. Fico admirado por uns instantes, tento fazer o mesmo mas não rola. acabo me perdendo em sua escuridão. A triste "expectativa X realidade ".
Eu já nem me reconheço, logo eu, tendo meus sentimentos bagunçados.
Observo a rua lá fora através do vidro, ainda esperando que ele ligue o carro novamente e nos leve pra outro lugar por receio de alguém aparecer.
- Por que saímos de lá ? - perguntei olhando as gotas daquela chuva que se fortalecia escorrendo pelo vidro da janela, ligando as lagrimas de chuva com a ponta dos dedos.
- Saímos de lá porque - Lucas respirou fundo e suspirou - por que eu não quero ter de me preocupar se alguém ver o que quisermos fazer, entende ?
- Uhum, acho que sim - sorri de maneira simples, quase um desdem - mas o que exatamente quer fazer ?
Sim, estou me fazendo de santo, preciso respeitar meus limites mas também preciso saber se valerá a pena, quebra-los para atingir os de Lucas. Apesar de estarmos em um carro e estar de noite, existem "n" coisas que podemos fazer.
- Então, me diz o que você gostaria que eu fizesse e o que não gostaria que eu fizesse afinal você não é criança né. - ele provoca.
Me mantenho quieto ouvindo cada palavra que saia de sua boca enquanto ele continuava
- Nesta noite? aqui e agora eu pretendo te conhecer, te curtir e ficar - ele fala sorrindo mas logo fica sério - tudo bem pra você ?
- Sim - respondi e ele lentamente estendeu a mão e acariciou o meu rosto.
E agora tudo ficou claro, tudo esta nítido e tão real quanto a chuva que caia. de um lado eu tinha todo o afeto e carinho que Lucas queria me oferecer transbordando de seu polegar direito, e do outo eu tinha a chuva batendo la fora com a plena certeza de que eu já estava condenado por aquele toque e que resistir não era uma escolha.
- É - iniciou e deu uma pausa como se tentasse formular a continuação da frase - sem querer ser chato, mas você é sempre quieto assim ?
- Sim, sou. - respondo mais sem graça que piada homofóbica.
- E esta tímido comigo ?
- Sim - falei cabisbaixo.
Mas quando nessa vida eu não tímido com alguém quando estou conhecendo ? Alias eu sempre começo assim, acho que é um meio de auto defesa. Sei lá, na minha cabeça não deixar a pessoa me conhecer por completo ou deixar ela saber que não estou me sentindo a vontade sempre me faz achar que ela vai ter cuidado por pensar que sou imprevisível.
- Não precisa ficar tímido nem envergonhado. Só tem a gente aqui - Sorriu levantando meu queixo - e se você continuar assim vou ter que te fazer perder a vergonha.
Eu to só aquelas asiáticas "safadenhas" rindo fazendo vários "hhihihihihhii" por dentro.
Paramos com o carro em uma das ruas calmas atras do Shopping Plaza Sul. Como é difícil um pouco de privacidade - mesmo com esse tempo de frio e por ser de noite, mas como tem uma praça aqui próximo e pela ultima seção do cinema provavelmente ter acabado agora a pouco pelo horário, eu acho que isso colabora um pouco por que tem a saída da galera - esta um pouco escuro e não vejo (por enquanto) nenhum sinal de uma alma viva, nenhum.
- Me fala de você, já que esta com tanta vontade de falar - ele riu me zoando.
- Bom - incrível como eu esqueço até meu nome quando uma pessoa pede pra eu falar um pouco de mim, ainda bem que isso não é uma entrevista de emprego ... calma Thiago, se concentra. Vai você consegue - Tenho 19 anos, moro com minha mãe, irmã e sobrinho (o Yago ). Ah! tenho três cachorras, a Pitucha é a mais velha e e é uma Pinscher, a segunda no comando é a Beyoncé e se você rir eu te bato ...
ele segura o riso.
- Que bom que segurou a risada, se não você já ia levar um soco perdido - rimos - continuando, ela é uma Pitbull com Pastor Alemão e por ultimo a Rihanna uma filhotinha de Pitbull que tem dez meses. Eu tenho poucos amigos mas os pouco que eu tenho valem por muitos. as vezes brigamos sim, claro, mas gosto deles do jeito louco que são. Eu prezo muito pelos laços de amizade que tenho.
- Então quer dizer que o senhor tem poucos amigos... deve ser uma pessoa difícil você heim ?
- Eu sou simples, as pessoas que me testam e já começam a mentir sem nem me conhecer, acredita ? - jogo a indireta bem direta na cara do safado.
- Ah tá claro - ele fala fazendo deboche - e alem desse rancorzinho no coração - ele sorri - O que mais você faz da vida ?
- Trabalho com vendas em uma loja de artesanato. Fora o trabalho meu passa tempo é escrever, ler, assistir séries e filmes e patinar...
Diante desse real desabafo o silencio se formou, talvez eu tenha falado muito. Ele me encara e toma folego para dizer algo mas eu o interrompo.
- [ahh!] Eu gosto de ouvir musica também - falo entusiasmado e se eu não soubesse o que estava falando, vendo tamanho entusiasmo que estou colocando pra fora podia jura que eu estou falando de algo realmente muito foda, algo como um intercambio, salvar o banco de uma assaltou ou até mesmo uma qualidade profissional que somente eu tenho. Como se isso pudesse fazer Lucas se interessar ainda mais por mim.
Acho que estou sendo idiota por estar contando isso para ele, ninguém nunca se importa. Hoje, hoje é só sexo...
- É mesmo ? - Ele interrompe meu pensamento - Que estilo você curte ?
Perguntou ficando completamente de lado no banco para relaxar, escorado, quase que deitado. Não acredito que ele conseguiu se afundar mais ainda nesse banco.
- Eu sou bem eclético, um pouco de pop, funk (bem pouco mesmo - dizendo isso pareço até hipócrita porque na festa da loja eu estava me acabando até o chão), indie como Adele ... Adele tem um jeito tão bom para se adaptar em tudo que faz que eu nem sei qual o verdadeiro estilo dela. Ela é tão ...
- Alternativa ? - ele completa.
- Isso !
Ele da risada
- Eu também gosto de Lana Del Rey, Beyonce, Sia, um pouco de eletrônica como Calvin Harris, Florence + The Machine, Rihanna, Birdy. Então, acontece que eu escuto mais o que é hit - e carai to falando tudo que cai no pensamento - The Kooks e outras bandas que fazem parte da trilha sonora das séries que eu assisto.
- Legal, acho que você iria gostar bastante de Foxes, depois eu te mostro umas musicas dela. Ela é indie.
De quem ele esta falando ? quem é Foxes ? O assunto já havia acabado e eu já havia acabado e eu já havia falado de tudo que passara por minha mente.
Dizem que quando temos que falar em um encontro é bom falar só o necessário, forçar-se a falar ou querer "desenterrar" algum assunto morto pode te deixar passar alguma merda (metaforicamente), eu falo muita merda então não vou me arriscar.
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Apesar de termos conversado bastante, nós não passamos disso. Ta, algumas trocas de olhares e sorrisos, mas nada alem disso. #grilosécomvocês
Ah o silencio, sabe-se lá quantos minutos perdemos nisso, acho que assim como eu, Lucas também é o tipo de pessoa que espera que a atitude venha do parceiro, sabe ?
Nada novo sob a luz do sol né, eu tenso aqui no no carro de alguém que fiz cu doce por meses para conhecer. Bom, pelo menos to conhecendo agora. De minuto em minuto eu me afundo mais no banco e suspiro - logo estarei no porta malas de tanto que me afundo - estou com meus olhos bem atentos e paralisados, não olho pro lado para não ver ele e não ter assunto quando nosso olhar se cruzar de novo.
To durão assim mas não é dor e nem falta de ar, to assim porque quero e não quero que aconteça algo entre nós.
- Ai ai - suspiro e olho para frente encarando a chuva lá fora.
Como se eu quisesse com isso dizer " Pelo amor de Deus, faça algo comigo agora, sério ! faz qualquer coisa pega no meu pau, na minha bunda, vem pra cima e me rouba um beijo, cara qualquer coisa..."
Não sei se sou eu que tenho baixa autoestima - haha sou eu sim - mas já estou pensando que ele não me curtiu, pior que mesmo com esse pensamento eu sabia que eu era "puxado" atrasado de alguma forma por alguma coisa ou seu corpo, mas eu sou muito tímido para suprir essa urgência que sinto do contato dele com o meu corpo. Tenho vergonha de beija-lo, o que estou fazendo com um cara lindo desse na minha frente e eu parado. Oh Derrota.
Lucas se inclina de uma maneira que eu achei que iria me beijar e até comecei a me inclinar em sua direção mas parei quando eu vi que não era pra me beijar - risos por quase passar esse mico - ele só queria abrir o porta luvas pra pegar um pendrive e colocar na entrada USB do som do carro. Apesar da minha inclinadinha para beija-lo ele não percebeu, glória, menos uma gafe. Quase passei mais uma vergonha antes do fim da noite.
Eu tenho essas coisas, não sei se devo chamar isso de toc, sempre tenho um preconceito com as pessoas a partir do nome delas, tipo ele como João me parecia muito mais responsável e experiente do que como Lucas. Depois dessa pequena, mas significativa, mudança Lucas parece mais infantil, jovem e brincalhão. Agora que João é Lucas...
Por ter mentido pra mim ele esta parecendo um moleque agora.
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- Para o carro, eu preciso descer - disse sem ter forças para olhar para baixo e procurar entre os bancos a ponta do sinto para apertar a trava e me soltar. Do jeito que estou me sentindo enganado, talvez se eu me abaixar um pouco e chore pois sinto meus olhos marejados. Marejados por uma mentira.
Ele ignora meu pedido
- Eu quero sair dessa droga agora, para essa porcaria João !
- Moleque você é louco !? - ele se inclinou até mim com o carro ainda em movimento, sobrepondo sua mão sobre a minha rapidamente fechando a porta com toda a força em meio a Dom Vilares - você é louco. Quer causar um acidente ou se matar ?!
- Louco !? - grito de raiva - Antes de nos conhecermos já existia uma mentira, achou que eu iria fazer o que com o seu nome. gritar aos 7 cantos que te conhecia, colocar anunciando em outdoors ?
ele me olha atento
- Para esse carro agora.
- Você é muito mimado Thiago, não esta se dando tempo para entender o meu lado. Eu não sou assumido e é por isso que também nunca te mandei uma foto. Eu tenho receio, não nego. Mas não sou uma pessoa ruim por ser assim.
- Por tudo o que eu vi de você até agora você pode ser um assassino, ou um ladrão de órgãos vigarista da internet - acusei.
Agora eu entendi o que minha mãe queria dizer quando falava sobre tomar cuidado com os sedutores da internet.
Pela vasta experiencia que eu tenho na area de programas criminais (Linha Direta, Brasil Urgente, Cidade Alerta e aquele que o Gil Gomes apresentava) esse cara sorrindo ao meu lado pode bem ser o meu assassino. Já consigo me ver em pedaços em uma mala bem apertada e abandonada num terminal de ônibus. "num podi sê" digo a mim mesmo, apertado não.
Ele me olha nos olhos, mas não com aquele olhar passageiro e receptivo. ele esta olhando no fundo do meu ser, quase como quem segura uma pessoa sem nem toca-la. Sim, estou rendido permitindo que seu olhar passeie por mim e de alguma forma tente me traduzir.
Aos poucos o seu sorriso vai embora deixando para traz apenas um semblante sereno - espero que ele não tenha lido minha mente até a parte da mala apertada.
Involuntariamente ele sorri de um jeito meigo. Agora calmo eu consigo notar que quando ele sorri seus olhos também sorriem, poderia um assassino ser tão meigo ? ou estaria ele sorrindo por ser doido de pedra ?
- Meu nome é Lucas, prazer - de maneira espontânea ele segura minha mão esquerda e a guia até o seu rosto roubando meu momento como investigador e me acalmando.
Lucas ... até que é um nome diferente pra um psicopata - pensei.
- Thiago - respondo involuntariamente.
- Como eu disse não sou assumido, então me desculpa por mentir. Não tenho costume de ser sempre...
- Um idiota ? - pergunto com raiva
Ele apertou o volante com mais força e olhou para frente dirigindo guiado pelo silencio para alguma rua com pouco movimento nas proximidades da Ribeiro Lacerda. Descemos, subimos e rodamos. Rodamos tanto que nem sei se ainda estamos na região da Av. do Cursino.
Estacionamos o carro varias e varias vezes, alias ele acabou de ligar o carro de novo, parece que tem alguém vindo... e isso o incomoda, e ser visto com um homem dentro de um carro também esta passando a me incomodar. Que paranoia.
- Acho que aqui é mais fácil para conversarmos. - ele estacionou em uma rua com pouca iluminação. Reinava total e extremo silencio.
Estou mais uma vez - pra variar - me permitindo ser feito de bobo e correndo riscos por um estranho qualquer. acho que tem três coisas enraizadas na minha personalidade, três coisas muito fortes dentre elas : ser trouxa, carente e ter raiva. O pior é que é tudo misturado.
Se ele mentiu sobre o nome, poderia ele ter mentido sobre a vida também. Será que ele trabalha com uma marca de dança mesmo ?
Ele se vira me encarando com esses olhos profundamente negros. Estou com a atenção dele totalmente voltada pra mim, parece até que esta tentando me decifrar - como eu odeio isso - como pode ele ter olhos tão escuros e tão vivos. Fico admirado por uns instantes, tento fazer o mesmo mas não rola. acabo me perdendo em sua escuridão. A triste "expectativa X realidade ".
Eu já nem me reconheço, logo eu, tendo meus sentimentos bagunçados.
Observo a rua lá fora através do vidro, ainda esperando que ele ligue o carro novamente e nos leve pra outro lugar por receio de alguém aparecer.
- Por que saímos de lá ? - perguntei olhando as gotas daquela chuva que se fortalecia escorrendo pelo vidro da janela, ligando as lagrimas de chuva com a ponta dos dedos.
- Saímos de lá porque - Lucas respirou fundo e suspirou - por que eu não quero ter de me preocupar se alguém ver o que quisermos fazer, entende ?
- Uhum, acho que sim - sorri de maneira simples, quase um desdem - mas o que exatamente quer fazer ?
Sim, estou me fazendo de santo, preciso respeitar meus limites mas também preciso saber se valerá a pena, quebra-los para atingir os de Lucas. Apesar de estarmos em um carro e estar de noite, existem "n" coisas que podemos fazer.
- Então, me diz o que você gostaria que eu fizesse e o que não gostaria que eu fizesse afinal você não é criança né. - ele provoca.
Me mantenho quieto ouvindo cada palavra que saia de sua boca enquanto ele continuava
- Nesta noite? aqui e agora eu pretendo te conhecer, te curtir e ficar - ele fala sorrindo mas logo fica sério - tudo bem pra você ?
- Sim - respondi e ele lentamente estendeu a mão e acariciou o meu rosto.
E agora tudo ficou claro, tudo esta nítido e tão real quanto a chuva que caia. de um lado eu tinha todo o afeto e carinho que Lucas queria me oferecer transbordando de seu polegar direito, e do outo eu tinha a chuva batendo la fora com a plena certeza de que eu já estava condenado por aquele toque e que resistir não era uma escolha.
- É - iniciou e deu uma pausa como se tentasse formular a continuação da frase - sem querer ser chato, mas você é sempre quieto assim ?
- Sim, sou. - respondo mais sem graça que piada homofóbica.
- E esta tímido comigo ?
- Sim - falei cabisbaixo.
Mas quando nessa vida eu não tímido com alguém quando estou conhecendo ? Alias eu sempre começo assim, acho que é um meio de auto defesa. Sei lá, na minha cabeça não deixar a pessoa me conhecer por completo ou deixar ela saber que não estou me sentindo a vontade sempre me faz achar que ela vai ter cuidado por pensar que sou imprevisível.
- Não precisa ficar tímido nem envergonhado. Só tem a gente aqui - Sorriu levantando meu queixo - e se você continuar assim vou ter que te fazer perder a vergonha.
Eu to só aquelas asiáticas "safadenhas" rindo fazendo vários "hhihihihihhii" por dentro.
Paramos com o carro em uma das ruas calmas atras do Shopping Plaza Sul. Como é difícil um pouco de privacidade - mesmo com esse tempo de frio e por ser de noite, mas como tem uma praça aqui próximo e pela ultima seção do cinema provavelmente ter acabado agora a pouco pelo horário, eu acho que isso colabora um pouco por que tem a saída da galera - esta um pouco escuro e não vejo (por enquanto) nenhum sinal de uma alma viva, nenhum.
- Me fala de você, já que esta com tanta vontade de falar - ele riu me zoando.
- Bom - incrível como eu esqueço até meu nome quando uma pessoa pede pra eu falar um pouco de mim, ainda bem que isso não é uma entrevista de emprego ... calma Thiago, se concentra. Vai você consegue - Tenho 19 anos, moro com minha mãe, irmã e sobrinho (o Yago ). Ah! tenho três cachorras, a Pitucha é a mais velha e e é uma Pinscher, a segunda no comando é a Beyoncé e se você rir eu te bato ...
ele segura o riso.
- Que bom que segurou a risada, se não você já ia levar um soco perdido - rimos - continuando, ela é uma Pitbull com Pastor Alemão e por ultimo a Rihanna uma filhotinha de Pitbull que tem dez meses. Eu tenho poucos amigos mas os pouco que eu tenho valem por muitos. as vezes brigamos sim, claro, mas gosto deles do jeito louco que são. Eu prezo muito pelos laços de amizade que tenho.
- Então quer dizer que o senhor tem poucos amigos... deve ser uma pessoa difícil você heim ?
- Eu sou simples, as pessoas que me testam e já começam a mentir sem nem me conhecer, acredita ? - jogo a indireta bem direta na cara do safado.
- Ah tá claro - ele fala fazendo deboche - e alem desse rancorzinho no coração - ele sorri - O que mais você faz da vida ?
- Trabalho com vendas em uma loja de artesanato. Fora o trabalho meu passa tempo é escrever, ler, assistir séries e filmes e patinar...
Diante desse real desabafo o silencio se formou, talvez eu tenha falado muito. Ele me encara e toma folego para dizer algo mas eu o interrompo.
- [ahh!] Eu gosto de ouvir musica também - falo entusiasmado e se eu não soubesse o que estava falando, vendo tamanho entusiasmo que estou colocando pra fora podia jura que eu estou falando de algo realmente muito foda, algo como um intercambio, salvar o banco de uma assaltou ou até mesmo uma qualidade profissional que somente eu tenho. Como se isso pudesse fazer Lucas se interessar ainda mais por mim.
Acho que estou sendo idiota por estar contando isso para ele, ninguém nunca se importa. Hoje, hoje é só sexo...
- É mesmo ? - Ele interrompe meu pensamento - Que estilo você curte ?
Perguntou ficando completamente de lado no banco para relaxar, escorado, quase que deitado. Não acredito que ele conseguiu se afundar mais ainda nesse banco.
- Eu sou bem eclético, um pouco de pop, funk (bem pouco mesmo - dizendo isso pareço até hipócrita porque na festa da loja eu estava me acabando até o chão), indie como Adele ... Adele tem um jeito tão bom para se adaptar em tudo que faz que eu nem sei qual o verdadeiro estilo dela. Ela é tão ...
- Alternativa ? - ele completa.
- Isso !
Ele da risada
- Eu também gosto de Lana Del Rey, Beyonce, Sia, um pouco de eletrônica como Calvin Harris, Florence + The Machine, Rihanna, Birdy. Então, acontece que eu escuto mais o que é hit - e carai to falando tudo que cai no pensamento - The Kooks e outras bandas que fazem parte da trilha sonora das séries que eu assisto.
- Legal, acho que você iria gostar bastante de Foxes, depois eu te mostro umas musicas dela. Ela é indie.
De quem ele esta falando ? quem é Foxes ? O assunto já havia acabado e eu já havia acabado e eu já havia falado de tudo que passara por minha mente.
Dizem que quando temos que falar em um encontro é bom falar só o necessário, forçar-se a falar ou querer "desenterrar" algum assunto morto pode te deixar passar alguma merda (metaforicamente), eu falo muita merda então não vou me arriscar.
__________________________________________________________________
Apesar de termos conversado bastante, nós não passamos disso. Ta, algumas trocas de olhares e sorrisos, mas nada alem disso. #grilosécomvocês
Ah o silencio, sabe-se lá quantos minutos perdemos nisso, acho que assim como eu, Lucas também é o tipo de pessoa que espera que a atitude venha do parceiro, sabe ?
Nada novo sob a luz do sol né, eu tenso aqui no no carro de alguém que fiz cu doce por meses para conhecer. Bom, pelo menos to conhecendo agora. De minuto em minuto eu me afundo mais no banco e suspiro - logo estarei no porta malas de tanto que me afundo - estou com meus olhos bem atentos e paralisados, não olho pro lado para não ver ele e não ter assunto quando nosso olhar se cruzar de novo.
To durão assim mas não é dor e nem falta de ar, to assim porque quero e não quero que aconteça algo entre nós.
- Ai ai - suspiro e olho para frente encarando a chuva lá fora.
Como se eu quisesse com isso dizer " Pelo amor de Deus, faça algo comigo agora, sério ! faz qualquer coisa pega no meu pau, na minha bunda, vem pra cima e me rouba um beijo, cara qualquer coisa..."
Não sei se sou eu que tenho baixa autoestima - haha sou eu sim - mas já estou pensando que ele não me curtiu, pior que mesmo com esse pensamento eu sabia que eu era "puxado" atrasado de alguma forma por alguma coisa ou seu corpo, mas eu sou muito tímido para suprir essa urgência que sinto do contato dele com o meu corpo. Tenho vergonha de beija-lo, o que estou fazendo com um cara lindo desse na minha frente e eu parado. Oh Derrota.
Lucas se inclina de uma maneira que eu achei que iria me beijar e até comecei a me inclinar em sua direção mas parei quando eu vi que não era pra me beijar - risos por quase passar esse mico - ele só queria abrir o porta luvas pra pegar um pendrive e colocar na entrada USB do som do carro. Apesar da minha inclinadinha para beija-lo ele não percebeu, glória, menos uma gafe. Quase passei mais uma vergonha antes do fim da noite.
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